terça-feira, 18 de agosto de 2009

Russel

"Três paixões, simples mas irresistivelmente fortes, governam minha vida: o desejo imenso de amar, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade."

Goethe

"As nossas paixões são verdadeiras fénixes. Quando a mais antiga arde, renasce uma nova das cinzas da primeira."

voltaire

"Paixão é uma infinidade de ilusões que serve de analgésico para a alma. As paixões são como ventanias que enfurnam as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam viagens nem aventuras nem novas descobertas."

Maiakovski

"...nenhum som me importa
afora o som do teu nome que eu adoro.
E não me lançarei no abismo,
e não beberei veneno,
e não poderei apertar na têmpora o gatilho.
Afora
o teu olhar
nenhuma lâmina me atrai com seu brilho"



"A espada gasta a bainha, costuma dizer-se. Eis o que aconteceu comigo. As minhas paixões fizeram-me viver, e as minhas paixões mataram-me."


"Nos demais,
todo mundo sabe,
o coração tem moradia certa,
fica bem aqui no meio do peito,
mas comigo a anatomia ficou louca,
sou todo coração."


Dedução

Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.

sábado, 8 de agosto de 2009





"Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação."




Clarice Lispector
Medo, talvez seja ele quem nos proteja quem nos diga ate onde devemos ir, ou não ir
E o medo de certas situações se repetirem, e mais uma vez sentir aquela dor, que parecia ter adormecido dentro de você. O medo de não conseguir controlar seus sentimentos, e por fim ter que acabar pagando por isso, de o que até pouco tempo parecia ser indiferente para você parece gradualmente criando espaço na sua vida, e você receia novamente se encontrar totalmente indefesa diante disso.
E ao se deparar com alguém sofrendo pelo o que você teme alguém passando pela situação na qual você quer evitar. Usando as palavras do Caio F. para traduzir sua frustração, e em alguns momentos você acaba se vendo naquilo, e o tal medo te faz recuar, se perguntar se de fato valera a pena correr o tal risco mais uma vez
Sei que não é correto fazer generalizações, que as pessoas sim são diferentes, que como muitas vezes deu errado, essa pode ser a vez da sorte, e que esse tal sentimento que eu tanto temo pode não vir a brotar, que isso seja apenas uma crise de TPM, onde eu insisto em recapitular as frustrações de uma vida toda, e assim supondo fazer um futuro diferente, como se isso de fato fosse possível. Esse medo pode nos palpar de perdas, mas também de ganhos, e estamos todos nos sujeitos aos dois, mas por ora só consigo ser pessimista, a vida me ensinou a ser assim, e será preciso que alguém me prove o contrario para essa visão cair por terra.

T.R


"Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido."

C.F.A

domingo, 19 de julho de 2009

Clarice Lispector

"Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco:
quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira
é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
"
[clarice lispector]

segunda-feira, 29 de junho de 2009


"...Tudo isso dói.
Mas eu sei que passa, que se está sendo assim é porque deve ser assim, e virá outro ciclo, depois.
Para me dar força, escrevi no espelho do meu quarto:¨Tá certo que o sonho acabou, mas também não precisa virar pesadelo, não é?¨È o que estou tentando vivenciar.
Certo, muitas ilusões dançaram - mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas. Também não quero dramatizar e fazer dos problemas reais monstros insolúveis,becos-sem-saída.
Nada é muito terrível. Só viver,não é?
A barra mesmo é ter que estar vivo e ter que desdobrar, batalhar um jeito qualquer de ficar numa boa. O meu tem sido olhar pra dentro, devagar, ter muito cuidado com cada palavra, com cada movimento, com cada coisa que me ligue ao de fora. Até que os dois ritmos naturalmente se encaixem outra vez e passem a fluir.
Porque não estou fluindo".


(Caio Fernando Abreu)




=/



De fato não estou!

domingo, 28 de junho de 2009






"Solidão, foge que eu te encontro/ Que eu já tenho asas... / Isso lá é bom?!"

(Marcelo Camelo - Doce Solidão)




Essa vontade incontrolável de chorar, gritar, sumir... De conseguir colocar a mão aqui dentro e arrancar o que dói, o que me desespera, me agonia, que me tira todo e qualquer sentido. Essa maldita nostalgia que me faz reviver cada momento, cada perda, cada decepção.Perceber que a solidão me tortura, mas é ela tudo o que tenho.

Oscar Wilde




"Não retorcia as mãos e não chorava,

nem lamentava o seu inferno;

ia, apenas, bebendo o ar como um bálsamo,

bálsamo bom, bálsamo eterno...

Abria os lábios e bebia o Sol

como uma taça de falerno."



"(...)No entanto (ouvi!) cada um mata o que adora:

o seu amor, o seu ideal.

Alguns com uma palavra de lisonja,

outros com um frio olhar brutal.

O covarde assassina dando um beijo,

O bravo mata com um punhal.



Uns matam o Amor velhos; outros, jovens;

(quando o amor finda, ou o amor começa);

matam-no alguns com a mão do Ouro,

e alguns com a mão da Carne, - a mão possessa!

E os mais bondosos, esses apunhalam,

- que a morte, assim, vem mais depressa.



Uns vendem, outros compram; uns amam pouco,

noutros, o Amor dura de mais;

uns enterram-no aos ais, vertendo pranto,

outros sem prantos e sem ais:

todo o homem mata o Amor; porém, nem sempre,

nem sempre as sortes são iguais."

(...)


(Oscar Wilde)

Charles Baudelaire





A Vida Anterior






Muito tempo habitei sob átrios colossais

Que o sol marinho em labaredas envolvia,

E cuja colunata majestosa e esguia

À noite semelhava grutas abissais.



O mar, que do alto céu a imagem devolvia,

Fundia em místicos e hieráticos rituais

As vibrações de seus acordes orquestrais

À cor do poente que nos olhos meus ardia.



Ali foi que vivi entre volúpias calmas,

Em pleno azul, ao pé das vagas, dos fulgores,

E dos escravos nus impregnados de odores,



Que a fronte me abanavam com as suas palmas,

E cujo único intento era o de aprofundar

O oculto mas que me fazia definhar.




O Vampiro





Tu que, como uma punhalada,

Em meu coração penetraste,

Tu que, qual furiosa manada

De demônios, ardente, ousaste,



De meu espírito humilhado,

Fazer teu leito e possessão

- Infame à qual estou atado

Como o galé ao seu grilhão,



Como ao baralho o jogador,

Como à carniça ao parasita,

Como à garrafa ao bebedor

- Maldita sejas tu, maldita!



Supliquei ao gládio veloz

Que a liberdade me alcançasse,

E ao veneno, pérfido algoz,

Que a covardia me amparasse.



Ai de mim! Com mofa e desdém,

Ambos me disseram então:

"Digno não és de que ninguém

Jamais te arranque a escravidão,



Imbecil! - se de teu retiro

Te libertássemos um dia,

Teu beijo ressuscitaria

O cadáver de teu vampiro!



Remorso Póstumo






Quando fores dormir, ó bela tenebrosa,

Em teu negro e mamóreo mausoléu, e não

Tiveres por alcova e refúgio senão

Uma cova deserta e uma tumba chuvosa;



Quando a pedra, a oprimir tua carne medrosa

E teus flancos sensuais de lânguida exaustão,

Impedir de querer e arfar teu coração,

E teus pés de correr por trilha aventurosa,



O túmulo, no qual em sonho me abandono

- Porque o túmulo sempre há de entender o poeta -,

Nessas noites sem fim em que nos foge o sono,



Dir-te-á: "De que valeu, cortesã indiscreta,

Ao pé dos mortos ignorar o seu lamento?"

- E o verme te roerá como um remorso lento






A alma do outro mundo





Como os Anjos de ruivo olhar,

À tua alcova hei de voltar

E junto a ti, silente vulto,

Deslizarei na sombra oculto;



Dar-te-ei na pele escura e nua

Beijos mais frios que a lua

E qual serpente em náusea fossa

Te afagarei o quanto possa.



Ao despontar o dia incerto,

O meu lugar verás deserto,

E em tudo o frio há de se pôr.



Como os demais pela virtude,

Em tua vida e juventude

Quero reinar pelo pavor

As Jóias





A amada estava nua e, por ser eu seu amante,

Das jóias só guardara as que o bulício inquieta,

Cujo rico esplendor lhe dava esse ar triunfante

Que em seus dias de glória a escrava moura afeta.



Quando ela dança e entorna um timbre acre e sonoro,

Este universo mineral que à luz figura

Ao êxtase me leva, e é com furor que adoro

As coisas em que o som ao fogo se mistura.



Ela estava deitada e se deixava amar,

E do alto do divã, imersa em paz, sorria

A meu amor profundo e doce como o mar,

Que ao corpo, como à escarpa, em ondas lhe subia.



O olhar cravado em mim, como um tigre abatido,

Com ar vago e distante ela ensaiava poses,

E o lúbrico fervor à candidez unido

Punha-lhe um novo encanto às cruéis metamorfoses.



E sua perna e o braço, a coxa e os rins, untados

Como de óleo, imitar de um cisne a fluida linha,

Passavam diante de meus olhos sossegados;

E o ventre e os seios, como cachos de uma vinha,



Se aproximavam, mais sutis que Anjos do Mal,

Para agitar minha alma enfim posta em repouso,

Ou arrancá-la então a rocha de cristal

Onde, calma e sozinha, ela encontra pouso.



Como se a luz de um novo esboço, unidade eu via

De Antíope a cintura a um busto adolescente,

De tal modo que os quadris moldavam-lhe a bacia.

E a maquilagem lhe era esplêndida e luzente!



- E estando a lamparina agora agonizante,

Como na alcova houvesse a luz só da lareira

Toda vez que emitia um suspiro faiscante,

Inundava de sangue essa pele trigueira.




Perfume Exótico





De olhos fechados, quando, alta noite, no outono,

respiro o cheiro bom dos teus seios fogosos,

Vejo entreabrir-se além de cenários deleitosos

Cintilando o ardor de um sol morno de sono:



Uma ilha preguiçosa e molenga e sem dono

Em que há árvores ideais e frutos saborosos;

Homens de corpos nus, finos e vigorosos,

Mulheres cujo olhar tem franqueza e abandono.



Guiado por teu perfume às paragens mais belas

Vejo um porto arquejar de mastros e velas

Ainda tontos talvez da vaga alta que ondula



Enquanto um verde aroma dos tamarineiros,

Que passeia pelo ar que aspiro com gula,

Se mistura em minha alma à voz dos marinheiros.

sábado, 27 de junho de 2009

Jose Saramago


Poema à boca fechada


Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.

Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.

Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.

Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.

Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.

Caio Fernando Abreu


POEMA ANTIGO


"Está tudo planejado:
se amanhã o dia for cinzento,
se houver chuva
se houver vento,
ou se eu estiver cansado
dessa antiga melancolia
cinza fria
sobre as coisas
conhecidas pela casa
a mesa posta
e gasta
está tudo planejado
apago as luzes, no escuro
e abro o gás
de-fi-ni-ti-va-men-te
ou então
visto minhas calças vermelhas
e procuro uma festa
onde possa dançar rock
até cair"




“…e essa falta cresce à cada dia, de forma avassaladora…
quando enfim penso que estou me acostumando, que estou te esquecendo,
você ressurge de forma inesperada ocupando todos os espaços, transbordando de

dentro de mim... e é nessa inconstante loucura que vivo sem te ter.”




“Se quiser eu piro, e imagino ele de capa de gabardine, chapéu molhado, barba de dois dias, cigarro no canto da boca, bem noir. Mas isso é filme, ele não. Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto para mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros como você. Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado, comigo: um dia encontro.”

Teria mesmo chegado ao ponto de dizer ‘nutro’? Teria, teria sim, teria dito nutro & relacionamento & rompimento & afeto, teria dito também estima & consideração & e mais alto apreço e toda essa merda educada que as pessoas costumam dizer para colorir a indiferença quando o coração ficou inteiramente gelado“. (‘Os sapatinhos vermelhos’)



Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”. Pois esse impulso é, às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te surpreenderás pensando algo assim como ‘estou contente outra vez’…”


“Tenho tentado aprender a ser humilde. A engolir os nãos que a vida me enfia goela abaixo. A lamber o chão dos palácios. A me sentir desprezado-como-um-cão e tudo bem, acordar, escovar os dentes, tomar um café e continuar.”

“Sempre há alguma coisa que falta. Guarde isso sem dor. Embora, em segredo,doa.”

“Tem olhos hipnóticos, quase diabólicos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguirá alcançá-la.”

Amigos não são para essas coisas – Caio F


Amigos não são para essas coisas

“Amigos não ’são para essas coisas’, não. Isso é um clichê detestável, significando quase sempre que amigo é saco de pancadas, é uma espécie de privada onde o outro pode jogar objetos, detritos imundos e dar descarga. Amigos são para dividir o bem e o mal, mas também para deixarem as coisas sempre limpas entre eles – amigos devem ser solidários. Um dos meus maiores amigos, [...], que vive em Paris há quase 30 anos e é soropositivo há 9 (mas graças a Deus saudabilíssimo), tem sempre a preocupação de ser útil aos amigos. Quase não fala, não envia flores, não escreve cartas – mas quando procurado está sempre ali, firme e cheio de informações práticas para ajudar a gente. Amigos são também para escrever cartas enormes e um tanto idiotas como esta, cheia de carências, porque gostam de outros amigos e não querem que as relações de amizade tombem nesse poço nojento de brutalidade e vulgaridade que viraram os anos 90″.


"... Não compreendo como querer o outro possa tornar-se mais forte do que querer a si próprio. Não compreendo como querer o outro possa pintar como saída de nossa solidão fatal. Mentira: compreendo, sim. Mesmo consciente de que nasci sozinho do útero de minha mãe, berrando de pavor para o mundo insano, e que embarcarei sozinho num caixão rumo a sei lá o quê, além do pó. O que ou quem cruzo esses dois portos gelados da solidão é vera viagem: véu de maya, ilusão, passatempo. E exigimos o eterno do perecível, loucos".

"Não, você não sabe, você não sabe como tentei me interessar pelo desinteressantíssimo"


"Tenho a impressão que a vida, as coisas foram me levando. Levando em frente, levando embora, levando aos trancos, de qualquer jeito. Sem se importarem se eu não queria mais ir. Agora olho em volta e não tenho certeza se gostaria mesmo de estar aqui."


"Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais — por que ir em frente?
Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia — qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido."


"Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da gente, sempre sabe exatamente quando termina."


"Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo porque digo mais, se não estou certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora."

"Não sei, deixo rolar. Vou olhar os caminhos, o que tiver mais coração, eu sigo."


"As minhas verdades me bastam, mesmo sendo mentiras."


"Você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off. Você não vai encontrá-lo em Deus nem na maconha, nem mudando para Nova York, nem."


"...porque as coisas e as pessoas que fazem parte da minha vida vão aos poucos entrando em mim, depois de algum tempo já não sei dizer o que é meu e o que é delas. Mesmo assim, bem no fundo, há coisas que são só minhas. E embora me assustem às vezes, é delas que mais gosto..."

"Normalmente resistimos enquanto o coração resseca, os olhos endurecem, as deliberações se frustram. Desmascaramos a farsa para continuarmos a existir no meio dela. De que nos tem servido essa lucidez senão para chamar barra cada vez mais pesada? Batalhamos a paz, a divina indiferença. Pra termos sede de amor e de beleza."

"Penso: quando você não tem amor, você ainda tem as estradas."

"Não espero nenhum olhar, não espero nenhum gesto, não espero nenhuma cantiga de ninar. Por isso estou vivo. Pela minha absoluta desesperança, meu coração bate ainda mais forte. Quando não se tem mais nada a perder, só se tem a ganhar.
Quando se pára de pedir, a gente está pronto para começar a receber. O futuro é um abismo escuro, mas pouco importa onde terminará a minha queda. De qualquer forma, um dia seremos poeira. Quem é você? Quem sou eu? Sei apenas que navegamos no mesmo barco furado, e nosso porto é desconhecido. Você tem seus jeitos de tentar. Eu tenho os meus. Não acredito nos seus, talvez também não acredite nos meus próprios. Não lhe peço que acredite em mim".

"É preciso estar distraído e não esperando absolutamente nada. Não há nada a ser esperado. Nem desesperado."

"...por que, então, cultivar roseiras se, quando tudo está crescido, é nelas que você se corta?"

gosto de pessoas doces, gosto de situações claras - e por tudo isso ando cada vez mais só."

'eu não sabia, eu morria, eu nascia sucessivamente, em desespero, eu compreendia súbito. Não, não era amor. Era terror.'

"Seja como for, continuo gostando muito de você - da mesma forma -, você está quase sempre perto de mim, quase sempre presente em memórias, lembranças, estórias que conto às vezes, saudade..."

"Não é verdade que as pessoas se repitam. O que se repetem são as situações"

" Somos inocentes em pensar, que sentimentos são coisas passíveis de serem controladas. Eles simplesmente vêm e vão, não batem na porta, não pedem licença. Invadem, machucam, alegram (...) "

"De vez em quando eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno, bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada um tempo enorme. só olhando você, sem dizer nada só olhando e pensando: "meu Deus, mas como você me dói de vez em quando..."

"Que te dizer? Que te amo, que te esperarei um dia numa rodoviária, num aeroporto, que te acredito, que consegues mexer dentro-dentro de mim?"

" Ninguém te ensinará os caminhos. Ninguém me ensinará os caminhos. Ninguém nunca me ensinou caminho nenhum, nem a você, suspeito. Avanço às cegas. Não há caminhos a serem ensinados, nem aprendidos.”

Ah:fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone,a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro,faltarás ao trabalho,escreverás cartas que não serão nunca enviadas,cunsultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suícidios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia,não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro o cheiro preciso dele...¨

"Cuidado com as ilusões, mocinha, profundas e enganosas feito o mar."

"Ainda que dentro de mim as águas apodreçam e se encham de lama e ventos ocasionais depositem peixes mortos pelas margens e todos os avisos se façam presentes nas asas das borboletas e nas folhas dos plátanos que devem estar perdendo folhas lá bem ao sul e, ainda que você me sacuda e diga que me ama e que precisa de mim: ainda assim não sentirei o cheiro podre das águas e meus pés não se sujarão na lama e meus olhos não verão as carcaças entreabertas em vermes nas margens, ainda assim eu matarei as borboletas e cuspirei nas folhas amareladas dos plátanos e afastarei você com o gesto mais duro que conseguir e direi duramente que seu amor não me toca nem me comove e que sua precisão de mim não passa de fome e que você me devoraria como eu devoraria, você ah se ousássemos."

E esse vazio que ninguém dá jeito? Você guarda no bolso, olha o céu, suspira, vai a um cinema, essas coisas. E tudo, e tudo, e tudo."

... o passado abrindo súbito seu baú mofado pra trazer de volta fantasmas esquecidos... '

"Tenho medo de te ferir. Mas acho que precisamos 'falar seriamente'. Desculpe, mas acho que sim, sem fantasia, sem comicidade. Me pergunto sempre se você não teceu em volta de mim uma porção de coisas irreais - se você não está projetando em mim qualquer coisa como um príncipe encantado - esperando a minha volta como quem espera a salvação."

Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. "


"Já começou a esquentar, eu penso em você. A cidade está linda. O inverno guardado nos ossos vai indo embora aos poucos. Como um degelo, por dentro. Me dá notícias. Se encontrar um daqueles telefones, ligo qualquer noite. Você vem mesmo em julho? Sinto saudade, ando meio só. Um beijo, cem beijos".

" Tenho medo de já ter perdido muito tempo. Tenho medo que seja cada vez mais difícil. Tenho medo de endurecer, de me fechar, de me encarapaçar dentro de uma solidão -escudo".

"Mas não se pode agir assim, a amiga avisou no telefone. Uma pessoa não é um doce que você enjoa, empurra o prato, não quero mais."

' Agora pensei outro pensamento de gente grande. É assim: vezenquando, uma coisa só começa mesmo a existir quando você também começa a prestar atenção na existência dela. Quando a gente começa a gostar duma pessoa, é bem assim'

-E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.

(Silêncio)

-Mas não seria natural.
-Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
-Natural é encontrar. Natural é perder

"Andei amando loucamente, como há muito tempo não acontecia. De repente a coisa começou a desacontecer. Bebi, chorei, ouvi Maria Bethânia, fumei demais, tive insônia e excesso de sono, falta de apetite e apetite em excesso, vaguei pelas madrugadas, escrevi poemas (juro). Agora está passando: um band-aid no coração, um sorriso nos lábios – e tudo bem. Ou: que se há de fazer."

"Acho que sou bastante forte para sair de todas as situações em que entrei, embora tenha sido suficientemente fraco para entrar."

"De tudo isso, me ficaram coisas tão boas. Uma lembrança boa de você, uma vontade de cuidar melhor de mim, de ser melhor para mim e para os outros. De não morrer, de não sufocar, de continuar sentindo encantamento por alguma outra pessoa que o futuro trará, porque sempre traz, e então não repetir nenhum comportamento. Ser novo."

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão."

"Quando partiu, levava as mãos no bolso, a cabeça erguida. Não olhava para trás, porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto, ficado em meio para trás. Não olhava, pois, e, pois não ficava. Completo, partiu."

"Penso, com mágoa, que o relacionamento da gente sempre foi um tanto unilateral, sei lá, não quero ser injusto nem nada - apenas me ferem muito esses teus silêncios."

"mania de esperar que as coisas sejam um jeito determinado, por isso a gente se decepciona e sofre. "

"De repente, sentada no sofá, recordei tristezas. Ao lado da mala cheia de defuntos que carrego, meu olfato se aguça. De repente, não mais que de repente, meu olhar se fez cansado, minha tristeza se fez única, igual ao sabor coisas perdidas no tempo, esquecidas, como uma bandeija de morangos mofados."

' E para que tudo não doesse demais quando não era capaz de, apenas esperando, evitar o insuportável, fazia a si próprio perguntas como: se a vida é um circo, serei eu o palhaço? Às vezes também o domador que coloca a cabeça dentro da boca escancarada do leão, às vezes o equilibrista do arame suspenso no abismo, a bailarina sobre o pônei, e também o engolidor de espadas, e mais a mulher serrada ao meio — e ainda, o quê? '

Depois de todas as tempestades e naufrágios, o que fica em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro”.

'Então, de repente, sem pretender, respirou fundo e pensou que era bom viver. Mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte - mesmo assim era bom viver. Não era fácil, nem agradável. Mas ainda assim era bom. Tinha quase certeza'

'Tenho trabalhado tanto,mas penso sempre em você(...).Se não dormisse cedo nem estivesse quase sempre cansado,acho que esses pensamentos quase doeriam e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro entre os lençois.'

"Mas finjo de adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano, mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio - viria? virá? - e minto não, já não preciso."

“Pura ilusão, desejo. Desejo louco, perverso, desejo alucinado. Desejo que não se atreve a violar as barreiras do estabelecido. Desejo que não sacia nunca, a não ser na fantasia solitária ou na própria morte."

* Caio Fernando Abreu *